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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Jovens formiguinhas


Por Angélica Menezes

Parafraseando Oscar Wilde, não somos jovens o bastante para saber tudo. Penso que esse é o sentimento que nos move a todos em busca do crescimento, em todos os sentidos possíveis.

Repensando nossa vida profissional, algumas questões vêm logo à mente, e não há meios de fugir delas. Uma é no sentido pessoal: que tipo de profissional eu sou, e o que faço para ser um profissional cada vez melhor? Outra é no sentido geral: o que fazemos – todos nós – pelo nosso meio profissional; quanto realmente estamos unidos trabalhando por um bem comum? Outra ainda, e talvez mais importante, como se mede o nosso amor à arte que praticamos? Como pesar o que tem maior ou menor relevância na construção desse caminho? E uma outra questão é a visão do outro: como o outro vê o meu trabalho, o seu trabalho e o nosso trabalho? Até que ponto nós, individualmente, trabalhamos juntos? Será que depende mais de mim do que do outro? Ou a proporção é a mesma? Valendo-me dessa vez da história da formiguinha, que trabalhou junto com suas companheiras o verão inteiro para não morrerem de fome no inverno, e do gafanhoto, que nada fez e no fim dependeu da ajuda das formigas para não morrer, fico pensando no papel que ocupamos: somos formiga ou gafanhoto?

Em qualquer profissão, experiência é algo que se constrói gradativamente; somente o tempo poderá devolver o que investimos. Logicamente, esse processo se faz de escolhas. Escolhas que nos levam aos mais diversos caminhos, bons ou ruins, e que a própria vida nos ensina a selecionar o que não serve. Caminhos esses fáceis ou difíceis. Não é só errando que se aprende; o aprendizado pode sim ser prazeroso, pode vir do (e com o) sucesso, sem termos que necessariamente sofrer por isso. Mas o mais importante é ousar. É estar disponível. É aceitar que nunca seremos jovens o bastante para sabermos tudo, e que uma formiguinha só não faz inverno. É trabalhar por amor, antes de trabalhar por dinheiro, mas nem por isso se deixar explorar. Às vezes o pagamento é muito maior do que qualquer moeda pode pagar: é aquela sensação de “dei o melhor de mim, e valeu muito a pena”. É nos abraçarmos e deixar que as lágrimas rolem de emoção por ver quanto de nossa energia espalhamos para o mundo, quanto devolvemos a ele do que a vida generosamente nos dá, e que marca estamos deixando nele.

Entre sermos jovens, formigas ou gafanhotos, sejamos então não tão jovens, mas eternamente aprendizes, e eternamente formigas.

Para onde vai o Teatro Municipal?

Títulos possíveis:
Para onde vai o Teatro Municipal?
Ou Samba de criolo doido, ou ainda Salve-se quem puder


Por Angélica Mz

O TMSP é uma verdadeira casa da mãe Joana. O maestro Neschling só põe em palavras os pensamentos de todos nós músicos, que presenciamos a cena lírica brasileira afundar cada vez mais por absoluta incompetência administrativa. Com o devido respeito que permite a minha educação à diretora do TMSP, existe uma singela diferença entre Villa-Lobos e Alban Berg. Além disso, alguém que admite sua ignorância musical faz o que no posto de diretora de uma casa de ópera?

Os músicos, excelentes profissionais que há anos se dedicam àquele teatro, mereciam o mínimo de respeito, mereciam ser ouvidos, ter sua opinião considerada enquanto profissionais e verdadeiros responsáveis pelo sucesso ou não das temporadas do Teatro. Ao contrário, estão calados, sem direitos que lhes garantam o poder de manifestar-se, à mercê de administrações incompetentes, e a anos e anos de descaso com um teatro tão importante quanto é o paulista. Quando é que se compreenderá que música se faz com músicos, em todos os níveis, inclusive administrativos? Só nos resta torcer para que essa famigerada 'fundação' aconteça para o bem, para tornar essa casa ideal tanto para seu público quanto para seus profissionais, e não como gabinete de empregos para parentes de políticos.

Não adianta vir a Sr diretora nos convencer da maravilha administrativa que é o TM e do que internamente está sendo feito, se o público há meses não assiste uma montagem sequer; se sua orquestra enfrenta uma crise interna e se seu coro termina o ano cantando “pinheirinhos que alegria” na Sala São Paulo...Onde está tal brilhantismo? Na falta de direitos trabalhistas dos músicos? Na ausência de temporada, de organização, de seriedade? Ou nos cargos administrativos ocupados por ‘profissionais’ que acham que tocar Berg é o mesmo que tocar Villa-Lobos?

Por uma administração musical para o TMSP!Pela união da classe musicista, que cada vez mais necessita unir forças para transformar a realidade de nossa vida artística!

http://semibreves.wordpress.com/2010/06/17/repensando-o-teatro-municipal/#comment-107